terça-feira, 24 de abril de 2012


LEFFA, Vilson J. Se mudo, o mundo muda: ensino de línguas sob a perspectiva do emergentismo. Revista Calidoscópio(jan/abr 2009), Vol.7 p. 24-29, UNISINOS.

RESENHA

                                            Karen Foletto Ferreira

           No artigo supracitado, Vilson Leffa versa sobre a aplicação de teorias como emergentismo e sistemas complexos ao processo ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras. Segundo o autor, a principal motivação que norteia as reflexões apresentadas no artigo é o erro histórico de ver a língua como a soma de subsistemas (fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático) e a aprendizagem como a soma estratificada desses subsistemas. Para Leffa, a aprendizagem de uma língua consiste, portanto, na interação entre esses subsistemas em adição a subsistemas de outras camadas, como o estrato psicológico, pedagógico, etc.
           Utilizando-se de exemplos como o clima e o trânsito, o autor postula que a principal característica de um sistema complexo está em transpor as barreiras do próprio sistema e alcançar sistemas que habitam em outras camadas, o que traz como consequência uma constante mudança em cada um dos sistemas atingidos. A interação dos elementos é o que provoca a mudança em um sistema complexo, sendo este, portanto, dinâmico. A sala de aula, por envolver alunos e professores interagindo entre si, com divisão de responsabilidades e conteúdos pré-determinados, com normas de conduta a serem seguidas, é suscetível às influências do mundo exterior, sendo, assim, um sistema aberto, sensível ao meio que o cerca.
           Leffa afirma que enfoques reducionistas falham ao tentar explicar o fenômeno complexo da aprendizagem de uma língua estrangeira, por que não dão conta da interação entre os sistemas. Além disso, constata que, se tradicionalmente essa dificuldade existia, hoje ela se faz muito maior, já que há a inserção de inúmeros outros artefatos culturais se faz presente na vida do aluno. Atualmente, a competência de um professor de língua estrangeira tem de ir muito além do livro didático, porque houve uma “ampliação das comunidades de prática social em que vive o aluno” (p.26), como no caso da Internet, que o possibilita interagir com falantes nativos sem limites de fronteira. Essa é uma evidência de que, por estar aberto à história, o ensino de línguas não para de evoluir e exige mudanças no modo de trabalhar do professor.
           Outra característica dos sistemas complexos apontada por Leffa é a imprevisibilidade. Em suas palavras, “não há qualquer garantia de uma correlação positiva entre o que o professor ensina e o que o aluno aprende” (p.27). O professor tem de aprender a conviver com a incerteza, visto que não há como prever o resultado de sua ação na sala de aula.
           No início do artigo, Leffa afirma que tem como propósito mostrar que a percepção do ensino de línguas como um sistema complexo facilitaria o trabalho do professor em sala de aula. No entanto, o autor se perde em meio às exaustivas explicações sobre o que constitui e qual o funcionamento de um sistema complexo. Para mim, soa óbvio dizer que a realidade da sala de aula é, por exemplo, imprevisível e vulnerável ao mundo exterior. Concordo com a afirmação de que o enfoque reducionista falha ao explicar a realidade escolar, mas a adaptação de conceitos das ciências exatas ao ambiente da sala de aula também não traz maiores soluções.

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