LEFFA, Vilson
J. Se mudo, o mundo muda: ensino
de línguas sob a perspectiva do emergentismo. Revista Calidoscópio(jan/abr
2009), Vol.7 p. 24-29, UNISINOS.
RESENHA
Karen Foletto Ferreira
No artigo supracitado, Vilson
Leffa versa sobre a aplicação de teorias como emergentismo e
sistemas complexos ao processo ensino-aprendizagem de línguas
estrangeiras. Segundo o autor, a principal motivação que norteia as
reflexões apresentadas no artigo é o erro histórico de ver a
língua como a soma de subsistemas (fonológico, morfológico,
sintático, semântico e pragmático) e a aprendizagem como a soma
estratificada desses subsistemas. Para Leffa, a aprendizagem de uma
língua consiste, portanto, na interação entre esses subsistemas em
adição a subsistemas de outras camadas, como o estrato
psicológico, pedagógico, etc.
Utilizando-se de exemplos como o clima e o trânsito, o autor
postula que a principal característica de um sistema complexo está
em transpor as barreiras do próprio sistema e alcançar sistemas que
habitam em outras camadas, o que traz como consequência uma
constante mudança em cada um dos sistemas atingidos. A interação
dos elementos é o que provoca a mudança em um sistema complexo,
sendo este, portanto, dinâmico. A sala de aula, por envolver alunos
e professores interagindo entre si, com divisão de responsabilidades
e conteúdos pré-determinados, com normas de conduta a serem
seguidas, é suscetível às influências do mundo exterior, sendo,
assim, um sistema aberto, sensível ao meio que o cerca.
Leffa afirma que enfoques reducionistas falham ao tentar explicar o
fenômeno complexo da aprendizagem de uma língua estrangeira, por
que não dão conta da interação entre os sistemas. Além disso,
constata que, se tradicionalmente essa dificuldade existia, hoje ela
se faz muito maior, já que há a inserção de inúmeros outros
artefatos culturais se faz presente na vida do aluno. Atualmente, a
competência de um professor de língua estrangeira tem de ir muito
além do livro didático, porque houve uma “ampliação das
comunidades de prática social em que vive o aluno” (p.26), como no
caso da Internet, que o possibilita interagir com falantes nativos
sem limites de fronteira. Essa é uma evidência de que, por estar
aberto à história, o ensino de línguas não para de evoluir e
exige mudanças no modo de trabalhar do professor.
Outra característica dos sistemas complexos apontada por Leffa é a
imprevisibilidade. Em suas palavras, “não há qualquer garantia de
uma correlação positiva entre o que o professor ensina e o que o
aluno aprende” (p.27). O professor tem de aprender a conviver com a
incerteza, visto que não há como prever o resultado de sua ação
na sala de aula.
No início do artigo, Leffa afirma que tem como propósito mostrar
que a percepção do ensino de línguas como um sistema complexo
facilitaria o trabalho do professor em sala de aula. No entanto, o
autor se perde em meio às exaustivas explicações sobre o que
constitui e qual o funcionamento de um sistema complexo. Para mim,
soa óbvio dizer que a realidade da sala de aula é, por exemplo,
imprevisível e vulnerável ao mundo exterior. Concordo com a
afirmação de que o enfoque reducionista falha ao explicar a
realidade escolar, mas a adaptação de conceitos das ciências
exatas ao ambiente da sala de aula também não traz maiores
soluções.
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