Se mudo, o mundo
muda: ensino de línguas sob a perspectiva do emergentismo.
Vilson J. Leffa
Revista Calidoscópio(jan/abr 2009), Vol.7 p. 24-29,
UNISINOS
Por Xênia Amaral Matos
A percepção tradicional do
ensino de língua estrangeira moderna no âmbito escolar por se embasar nas
abordagens reducionistas faz com que o educador veja o contexto de sala de aula
como um sistema fechado, sem interação entre os meios que o rodeiam. Tal
perspectiva resulta em possíveis tarefas improdutivas e um contexto educacional
de baixo rendimento. Vilson Leffa, em seu artigo intitulado Se mudo, o mundo muda: ensino de línguas sob
a perspectiva do emergentismo, propõe um novo modo de encarar a percepção
do ensino de LEM: o Emergentismo. Segundo o autor, para se considerar esse ensino
sob a ótica do Emergentismo, é necessário, primeiramente, modificar a visão de
sistema que se tem sobre ele, o que implica considerá-lo como um sistema
complexo, aberto e sensível ao meio externo.
Primeiramente é pontuada a
definição de sistema complexo. De acordo com Leffa, esse tipo de sistema é
aquele que as partes constituintes interagem entre si ao invés de se somar umas
às outras, obtendo como resultado novos elementos, muitas vezes em cascata.
Além disso, o sistema complexo possui todo um processo de surgimento: ele
nasce, evolui através do tempo e termina quando o motivo que o gerou
extingue-se. Em poucas palavras, são sistemas abertos e sensíveis às
influências externas e às condições que o motivam a existir. Tendo em vista que
para um sistema ser complexo ele deve ter não apenas a soma de seus
componentes, mas, principalmente, a interação entre eles, é possível concluir
que essa interação é o fator o qual gera a constante mudança/progressão do
sistema. Essa mudança não está presa
dentro do sistema, ela é capaz de ultrapassar as barreiras dele e se
comunicar/alcançar outros sistemas afins. Assim, um sistema complexo tem a
capacidade de transpor um movimento horizontal (interno) e gerar um movimento
vertical (externo e que estabelece comunicação entre um sistema e outro). Tendo
em vista esse conceito, é possível enxergar a sala de aula de língua
estrangeira como um sistema que a partir da interação de seus componentes tem a
capacidade de estabelecer comunicações internamente e externamente, sofrendo a
influência daquilo que a rodeia. A
partir disso, é possível apresentar o conceito de Emergentismo, o qual é uma maneira
de explicar como um sistema complexo se desenvolve.
Assim, após pontuar tais conceitos, o autor enfoca-se
no processo que permite o sistema completo mudar e nas características dessas
mudanças que são geradas. Leffa argumenta que se um sistema complexo a partir
de uma abertura para o externo tem o potencial de interagir, se auto-organizar
e evoluir, o aluno, se considerado como membro desse sistema, também pode
atingir essas três potencialidades. Isso explica a importância de considerar
essa perspectiva dentro do ensino de LEM já que ela considera a aprendizagem de
L2 um processo complexo e oferece um meio de entender o que é a aprendizagem de
L2 diferente dos enfoques reducionistas. Encarar o ensino de línguas através
dessa nova perspectiva oferece um desafio ao professor, pois essa o tira de uma
zona de conforto (a das práticas reducionistas) inserindo-o em um novo meio o
qual, ao mesmo tempo em que oferece novas possibilidades positivas, implica que
passemos a desconsiderar a visão causa/efeito baseada em expectativas/previsões.
Isto é, dentro da concepção de sistema complexo, é impossível prever o
resultado da ação do educador, dos alunos e da turma. Entretanto, ao mesmo
tempo em que se abandonam velhas práticas, essa perspectiva traz novas: ela acredita
que em conseqüência do sistema complexo ser aberto; ele é sensível as suas
condições externas, o que permite com
que o professor insira a sua idéia/proposta e a deixe agir recebendo em troca uma evolução dessa
inserção cujo resultado é uma mudança, ao invés de uma expectativa.
Deste modo, Leffa conclui que o interesse pelos
sistemas emergentes surgiu uma vez que as abordagens reducionistas possuem
falhas ao explicar como uma segunda língua pode se desenvolver na mente do
aluno. Sendo assim, de acordo com o autor, os sistemas complexos seriam uma
alternativa ao sistema tradicional uma vez que possuem mais chances de obter
êxito no processo de aprendizagem de uma L2 por considerarem fatores
importantes (os externos) até então desconsiderados.
Em suma, o artigo Se mudo, o mundo muda: ensino de
línguas sob a perspectiva do Emergentismo contribui positivamente à área do
ensino de línguas, pois apresenta uma alternativa à velha perspectiva do
reducionismo; expondo, de modo sincero, os prós e os contras da nova
perspectiva.
esqueci de por a nota de rodapé:
ResponderExcluirLEM: língua estrangeira moderna.
sorry!