Resenha 1
Se mudo o mundo muda: o ensino de
línguas sob a perspectiva do emergentismo
Por Alessandra Moraes
LEFFA, Vilson J. Se mudo o mundo
muda: o ensino de línguas sob a perspectiva do emergentismo. In: Calidoscópio. Unisinos, 2009.
pp 24-29.
O artigo “Se mudo o mundo
muda: o ensino de línguas sob a perspectiva do emergentismo” , escrito por
Vilson J. Leffa , professor da Universidade Católica de Pelotas e pesquisador
na área de linguística aplicada, busca refletir sobre o trabalho do professor
na sala de aula em relação ao ensino de língua, para isso o autor traz o conceito de sistemas complexos, o
emergentismo e suas implicações no ensino de línguas.
Para o autor, historicamente
o ensino de língua estrangeira tem sido visto como se fosse um sistema simples
e estático e isso é um equivoco, pois, um
sistema não é apenas feito de elementos que o compõem; um sistema é feito de
outros sistemas afirma o autor. Entender que a língua é apenas um conjunto de sistemas que não se
relacionam entre si resulta na percepção de que a aprendizagem seria o domínio
ou o conhecimento destes sistemas. E isso pode parecer se tratar de um sistema
complexo, mas não é, pois, o que o caracteriza é a interação entre os sistemas. Por exemplo, quando um
professor de línguas apresenta aos alunos a conjugação de um verbo no presente
em frases isoladas, ele trata do sistema morfológico e sintático (forma
afirmativa,negativa e interrogativa) de forma isolada e o erro maior , ao meu
ver , é desconsiderar os outros sistemas da língua e suas relações , tais como
o contexto em que tal frase seria dita, qual a função dela , o sentido que ela
provoca dependendo da entonação, e assim por diante ocasionando uma falha e
talvez a não aprendizagem.
Portanto, a constante interação
entre os elementos de um mesmo sistema e entre um sistema e outro é o que
caracteriza um sistema complexo como algo mutável e dinâmico e podemos ver isso
a partir da sala de aula que é um sistema com elementos que se relacionam entre
si (professor,alunos, material didático) e ainda se relacionam com elementos de
outros sistemas inclusive sendo influenciada por elementos externos (como
notícias veiculadas pela mídia, acontecimentos na comunidade,etc.) tornando-a também
um sistema aberto e toda essa interação é o que proporciona a aprendizagem.
A partir desta perspectiva de complexidade sob o ensino de
língua estrangeira e a incapacidade do enfoque reducionista de explicar o
porquê a aprendizagem é um fenômeno complexo é que surge o interesse pelos
sistemas emergentes. Estes são por sua vez sistemas complexos que são criados a
partir de condições iniciais para atingir um determinado objetivo e deixa de
existir depois do objetivo ser alcançado. O professor deve considerar que para
uma efetiva aprendizagem há vários elementos interagindo, ou seja, o professor
não pode mais pensar o aluno como alguém que deve absorver tudo o que ele diz e
que não receberá influências externas tais como as novas tecnologias, mas
infelizmente essa é ainda a nossa realidade das escolas públicas brasileiras. E
talvez por essa mesma razão e entre outros elementos ( a formação baseada na
aprendizagem como sistema simples, a desvalorização do papel social , a
desvalorização do profissional pelo estado, comodismo, etc.) é que o professor ainda
pense que o que é ensinado deve ser aprendido ,sem considerar outros elementos
pois o sistema complexo enquanto sistema aberto fica vulnerável à fatores que
ele não pode controlar e não poderá prever o resultado da sua prática. Com isso
o autor visa provocar uma reflexão por parte do professor na sua prática,
precisa aprender a conviver com a incerteza, mas há um lado positivo nesta
situação, pois, a aprendizagem enquanto sistema aberto dá a oportunidade de ser
influenciada pelo professor que tem de estar atento aos elementos que deverá
interagir , e criando condições inicias irá contribuir para a emergência de um
novo sistema.
Leffa cita como exemplo o planejamento do plano de
curso ou o cronograma que geralmente é
apresentado na primeira aula onde as condições iniciais possam ser definidas ,
mas acredito que se o professor não tem um plano elaborado , qualquer aula é
uma boa oportunidade para começarmos a criar as condições iniciais. Toda essa
discussão é válida para que seja alimentada a ideia de que no processo de
ensino-apredizagem tudo está interligado e se a prática docente aos moldes
tradicionais vem mostrando que professor e aluno estão cada vez mais distantes
e a aprendizagem comprometida, está na hora de o professor rever os seus
conceitos e tentar através de intervenções nos elementos certos provocar
mudanças no ensino de línguas e na educação brasileira.
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