LEFFA, V.
J. Aspectos políticos da formação do professor de línguas
estrangeiras. In: LEFFA, Vilson J. (org.). O professor de línguas
estrangeiras; construindo a profissão. Pelotas: Educat, 2001.
RESENHA
Karen Foletto Ferreira
Vilson J. Leffa, no artigo Aspectos políticos da formação do
professor de línguas estrangeiras, versa
sobre alguns aspectos políticos envolvidos na formação de um
professor de língua estrangeira, dentre os quais estão incluídos a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as
universidades e associações de professores. O autor também traça
reflexões sobre o ensino de uma língua multinacional como o inglês,
sugerindo prioridades a serem trabalhadas em sala de aula.
Leffa inicia seu texto citando duas características exclusivas da
condição humana: a capacidade de falar e a de evoluir. Isso porque
o professor de línguas estrangeiras lida diariamente com a essência
humana, considerando-se que, ao ensinar, provoca uma mudança, uma
evolução, e, por tomar a língua como objeto, estabelece relação
com a fala. A formação de um professor de línguas estrangeiras
envolve o domínio da língua ensinada e de ações pedagógicas,
além de ser submetida a fatores exteriores ao meio acadêmico, como
a LDB, que estabelece as “exigências legais para o exercício da
profissão” (p.7).
Leffa afirma que o grande desafio da preparação de professores
está em formar o professor, e não apenas treiná-lo para reproduzir
mecanicamente técnicas e estratégias para a aplicação de
atividades. Essa formação é um processo contínuo que envolve a
habilidade de conectar o conteúdo adquirido (teoria) ao conhecimento
experimental (prática), culminando em uma reflexão sobre esses dois
saberes. No entanto, a formação de um profissional reflexivo,
crítico, seguro e competente é um processo que requer muitos anos e
é apenas iniciado dentro da universidade.
Por isso, conforme o autor, são tão necessárias a educação
continuada e a atualização dos professores. As associações de
professores contribuem para essa formação contínua, visto que
promovem a interação entre colegas, que encontram um meio para
compartilhar ideias e experiências, além de poderem agir junto às
autoridades educacionais e governamentais, possibilitando certos
subsídios para projetos políticos na área da educação
Leffa aponta que questões
político-econômicas podem influenciar a formação do professor,
trazendo como exemplo a hipótese de um estudante gostar e admirar a
cultura e língua francesa, mas acabar estudando inglês por uma
imposição do mercado de trabalho. O autor ressalta o fato de que a
expansão da língua inglesa implica “a expansão de um conjunto de
discursos que fazem circular ideias de desenvolvimento, democracia,
capitalismo, neoliberalismo, modernização” (p.12). Porém, o
autor não entende que o ensino do inglês deva ser evitado, ou visto
como “uma armadilha para a colonização mental do aluno” (p.12).
Leffa defende que o ideal está no ensino crítico da língua
inglesa, partindo da ideia de que “o inglês não representa
necessariamente uma única cultura” (p.12) e pode ser estudado a
partir do contexto e da cultura dos próprios alunos. Para ilustrar a
ideia do ensino de inglês com enfoque na cultura brasileira, Leffa
traz exercícios retirados de livros didáticos nacionais, das
décadas de 60 e 90.
O autor defende que, no caso de uma língua multinacional como o
inglês, é necessário definir um novo paradigma de ensino, porque
“não cabe mais a ideia tradicional do ensino de línguas
estrangeiras baseado na noção de uma língua uma cultura” (p.15).
Uma das prioridades é ensinar a variedade local; no caso, a
variedade brasileira como variante legítima da língua inglesa. A
segunda prioridade é ensinar o aluno a produzir na língua
multinacional, para poder interagir com com os interlocutores e não
apenas receber unilateralmente o que é lido/dito. Outra prioridade
defendida é ensinar a língua multinacional para objetivos
específicos, como apresentar um trabalho ou trocar e-mails.
A leitura do artigo se mostra positiva por apresentar a diversidade
dos aspectos envolvidos no processo de formação de professores que
objetivam estabelecer uma prática crítico-reflexiva para o ensino
de línguas . Revela-se necessário ao futuro professor a consciência
de que a verdadeira formação depende do seu aperfeiçoamento
profissional em um processo permanente.
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