terça-feira, 1 de maio de 2012


LEFFA, V. J. Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras. In: LEFFA, Vilson J. (org.). O professor de línguas estrangeiras; construindo a profissão. Pelotas: Educat, 2001.

RESENHA
Karen Foletto Ferreira

       Vilson J. Leffa, no artigo Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras, versa sobre alguns aspectos políticos envolvidos na formação de um professor de língua estrangeira, dentre os quais estão incluídos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as universidades e associações de professores. O autor também traça reflexões sobre o ensino de uma língua multinacional como o inglês, sugerindo prioridades a serem trabalhadas em sala de aula.
       Leffa inicia seu texto citando duas características exclusivas da condição humana: a capacidade de falar e a de evoluir. Isso porque o professor de línguas estrangeiras lida diariamente com a essência humana, considerando-se que, ao ensinar, provoca uma mudança, uma evolução, e, por tomar a língua como objeto, estabelece relação com a fala. A formação de um professor de línguas estrangeiras envolve o domínio da língua ensinada e de ações pedagógicas, além de ser submetida a fatores exteriores ao meio acadêmico, como a LDB, que estabelece as “exigências legais para o exercício da profissão” (p.7).
       Leffa afirma que o grande desafio da preparação de professores está em formar o professor, e não apenas treiná-lo para reproduzir mecanicamente técnicas e estratégias para a aplicação de atividades. Essa formação é um processo contínuo que envolve a habilidade de conectar o conteúdo adquirido (teoria) ao conhecimento experimental (prática), culminando em uma reflexão sobre esses dois saberes. No entanto, a formação de um profissional reflexivo, crítico, seguro e competente é um processo que requer muitos anos e é apenas iniciado dentro da universidade.
        Por isso, conforme o autor, são tão necessárias a educação continuada e a atualização dos professores. As associações de professores contribuem para essa formação contínua, visto que promovem a interação entre colegas, que encontram um meio para compartilhar ideias e experiências, além de poderem agir junto às autoridades educacionais e governamentais, possibilitando certos subsídios para projetos políticos na área da educação
      Leffa aponta que questões político-econômicas podem influenciar a formação do professor, trazendo como exemplo a hipótese de um estudante gostar e admirar a cultura e língua francesa, mas acabar estudando inglês por uma imposição do mercado de trabalho. O autor ressalta o fato de que a expansão da língua inglesa implica “a expansão de um conjunto de discursos que fazem circular ideias de desenvolvimento, democracia, capitalismo, neoliberalismo, modernização” (p.12). Porém, o autor não entende que o ensino do inglês deva ser evitado, ou visto como “uma armadilha para a colonização mental do aluno” (p.12). Leffa defende que o ideal está no ensino crítico da língua inglesa, partindo da ideia de que “o inglês não representa necessariamente uma única cultura” (p.12) e pode ser estudado a partir do contexto e da cultura dos próprios alunos. Para ilustrar a ideia do ensino de inglês com enfoque na cultura brasileira, Leffa traz exercícios retirados de livros didáticos nacionais, das décadas de 60 e 90.
        O autor defende que, no caso de uma língua multinacional como o inglês, é necessário definir um novo paradigma de ensino, porque “não cabe mais a ideia tradicional do ensino de línguas estrangeiras baseado na noção de uma língua uma cultura” (p.15). Uma das prioridades é ensinar a variedade local; no caso, a variedade brasileira como variante legítima da língua inglesa. A segunda prioridade é ensinar o aluno a produzir na língua multinacional, para poder interagir com com os interlocutores e não apenas receber unilateralmente o que é lido/dito. Outra prioridade defendida é ensinar a língua multinacional para objetivos específicos, como apresentar um trabalho ou trocar e-mails.
       A leitura do artigo se mostra positiva por apresentar a diversidade dos aspectos envolvidos no processo de formação de professores que objetivam estabelecer uma prática crítico-reflexiva para o ensino de línguas . Revela-se necessário ao futuro professor a consciência de que a verdadeira formação depende do seu aperfeiçoamento profissional em um processo permanente.

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